Testemunhos musicais
date_time
2023-09-13 10:07:12
-
Anónimo
Diego de Fermoselle
  • Polifonia (3 vozes)

Amoꝛ poꝛ quien yo paꝺezco | ꝺoloꝛ ꞇ pena creciꝺa | quexome ꝺe tus engaños | y ꝺe tu ley ꝺoloꝛída 

Amoꝛ poꝛ q̃en yo padezco

Amoꝛ poꝛ q̃en yo padezco

del menos tuyo tacuerdas | e le ꝺas gloꝛia conpliꝺa | al tu mayoꝛ ſeruiꝺoꝛ | tu falſa merçeꝺ le oluida

pruebolo cõtígo Amoꝛ | q̃ ſabes mj gran fatiga | deſ q̃ q̃ndo me vencíſte | ꝺe vna ꝺama no vencíꝺa 

Amor, por quien yo padezco, | dolor y pena crecida | quéxome de tus engaños | y de tu ley dolorida. | Del menos  tuyo t'acuerdas | e le das gloria conplida, | a tu mayor servidor, | tu falsa merçed le olvida. | Pruébolo contingo, Amor, | que sabes mi gran fatiga, | desque quando me vençiste, | de una dama no vencida.

                                                                             (Dumanoir 2021: 131)

fermoſelle [fol. lvijv]

Tnor, [fol. lvijv]

Contr. [fol lvijv

Anglés, Higinio, La música en la corte de los Reyes CatólicosII, Polifonía profana: Cancionero Musical de Palacio (siglos XV-XVI), vol. 1, Barcelona, Consejo Superior de Investigaciones Científicas/Instituto Español de Musicología, 1947.

Barbieri, Asenjo (ed.), Cancionero musical de los siglos XV y XVI, Madrid, Tipografía de los Huérfanos, 1890.

Dumanoir, Virginie (ed.), Romancero cortés manuscrito, coord. Josep Lluís Martos, Alicante, Universitat d'Alacant («Cancionero, Romancero e Imprenta», 4), 2021, p. 131.

Florentino, Giuseppe, Música española de Renacimiento entre tradición oral y transmisión escrita: el esquema de folía en procesos de composición e improvisación, Universidad de Granada, 2009, pp. 124-126.

Gómez Muntané, María del Carmen (ed.), Historia de la música en España e Hispanoamérica: de los Reyes Católicos a Felipe II, vol. 2, Madrid, Fondo de Cultura Económica, 2012. 

Rey, Pepe, "Música coral vernácula entre el Medievo y el Renacimiento", Nassarre, XVII, n.º 1-2, 2001, pp. 23-63.

Romeo Figueras, José, La música en la Corte de los Reyes Católicos. IV-1. Polifonía profana. Cancionero Musical de Palacio (Siglos XV-XVI), vol. 3-A, Barcelona, Consejo Superior de Investigaciones Científicas/Instituto Español de Musicología, 1965.

Varcárcel Rivera, Carmen, La realización y transmisión musical de la poesía en el Renacimiento español (Dissertação de Doutoramento), Madrid, Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad Autónoma de Madrid, 1994.

1. A transcrição moderna da melodia foi feita segundo as normas constantes nos critérios editoriais do catálogo musical RELIT-Rom

2. A altura dos sons indicada no manuscrito pode não corresponder à altura dos sons a que a peça era cantada, pois um dos critérios importantes para a escolha das claves era evitar o uso de linhas suplementares na partitura (conforme indicado nos critérios editoriais do catálogo musical RELIT-Rom). Neste exemplo, à voz indicada como Tenor corresponde uma tessitura de contralto. De acordo com o princípio geral deste catálogo, de menor interferência possível, mantém-se a denominação do texto original, cabendo aos intérpretes decidir sobre a pertinência da realização de transposições.

3. Estrutura musical em quatro frases, cada uma correspondendo a um verso.

4. A escrita é típica da polifonia vocal homofónica: as vozes são equilibradas, movendo-se maioritariamente com o mesmo ritmo, resultando numa escrita vertical em blocos de acordes que aposta sobretudo na expressividade das harmonias e não na elaboração contrapontística; cada voz movimenta-se por grau conjunto ou por intervalos musicais pequenos, com poucos saltos, excepto o baixo, que vai fazendo saltos intervalares maiores consoante as necessidades harmónicas; o âmbito de cada voz está dentro da oitava, os valores rítmicos são maioritariamente longos e incidem sobretudo na breve e semibreve. O tempo da peça é binário. A melodia está na voz superior.

5. Esta peça apresenta problemas na transcrição, pois a leitura dos valores rítmicos apresentados resulta em erro, a partir da palavra "pena", entrando as três vozes em desavença rítmica e em dissonância permanente e não se encontrando sequer na nota final, o que aponta para um erro de cópia. O problema está na voz aguda, que a partir da nota Lá, abaixo assinalada, apresenta um desfasamento de um tactus (na nossa notação, corresponde nesta peça a uma semibreve) em relação às restantes vozes:

Especificamente, o local do desfasamento dá-se na sequência pausa - brevis pontuada - semibreve:

Cabe assim a quem transcreve tomar decisões e escolher onde corrigir o erro, o que passará forçosamente por uma alteração consciente ao texto musical original.

Higinio Anglés opta por modificar um valor rítmico no soprano: retira o ponto da brevis sobre a nota Lá, por forma a conseguir coordenação rítmica e e harmónica, e indica a alteração que fez em nota de rodapé:

 

Asenjo Barbieri encontra uma solução diferente, omitindo a pausa que antecede a brevis pontuada em Lá:

 

Não é de excluir que o erro do copista, ao escrever os valores rítmicos pausa - brevis pontuada - semibreve, se relacione com o facto de logo a seguir haver uma brevis pontuada - semibreve nessa mesma voz. 

Na transcrição do presente catálogo, optou-se pela solução de Anglés, para manter o movimento soluçante introduzido pelas pausas, que ocorre mais vezes na voz aguda (antes de "padezco", antes de "de tus" e antes de "engaños"), característico da peça e que contribui para o seu carácter expressivo e melancólico.