Engaste

yo me eſtaua en Coimbꝛa | [...] | Yo meſtaua en Coimbꝛa | cidade bem aentada | polos campos ꝺe Mondego | nam vi palha nem ceuada. | Quando aquilo vi mequinho | entendi que era cilada | contra os caualos ꝺa cte | ꞇ minha mula pelada. | Logo tiue a mao ſinal

Yo me estaba en Coimbra | [...] Yo m'estaba en Coimbra | cidade bem assentada | polos campos de Mondego | nam vi palha nem cevada. | Quando aquilo vi mesquinho | entendi que era cilada | contra os cavalos da corte | e minha mula pelada. | Logo tive a mau sinal

¶ Pois que nam poo rear | p me ver tam eſquipado | p aqui p eſte arnado | quero hum pouco paear | p eſpaçar meu cuydado. | E groſarey o romance | ꝺe yo me eſtaua en Coimbꝛa | pois Coimbꝛa ai nos cimbꝛa | que nam ha quem pꝛeto alcance | Groſa. | ¶ Yo meſtaua en Coimbꝛa | cidade bem aentada | polos campos ꝺe Mondego | nam vi palha nem ceuada. | Quando aquilo vi mequinho | entendi que era cilada | contra os caualos ꝺa cte | ꞇ minha mula pelada. | Logo tiue a mao ſinal | tanta milhaam apanhada | ꞇ a peſo ꝺe ꝺinheyꝛo | oo mula deſemparada. | Vi vir ao longo ꝺo rio | hũa batalha denada | nam ꝺe gentes, mas ꝺe mus | com muyta raya piſada, | a carne eſtaa em Bꝛetanha | ꞇ as couues em Biſcaya. | Sam capelam ꝺum fidalgo | que nam tem renda nem nada | quer ter muytos aparatos | ꞇ a caſa anda eſfaymada. | Toma ratinhos p pagẽs | anda ja a couſa ꝺanada, | querolhe pedir licença | pagueme minha ſoldada.

Vicente, Gil, Farsa dos Almocreves, Centro de Estudos de Teatro, Teatro de Autores Portugueses do Séc. XVI, www.cet-e-quinhentos.com [05/04/2022].

Pois que nam posso rezar | por me ver tam esquipado | por aqui por este arnado | quero um pouco passear | por espaçar meu cuidado. | E grosarei o romance | de Yo me estaba en Coimbra | pois Coimbra assi nos cimbra | que nam há quem preto alcance. | Grosa:   Yo m'estaba en Coimbra | cidade bem assentada | polos campos de Mondego | nam vi palha nem cevada. | Quando aquilo vi mesquinho | entendi que era cilada | contra os cavalos da corte | e minha mula pelada. | Logo tive a mau sinal | tanta milhã apanhada | e a peso de dinheiro | ó mula desemparada. | Vi vir ao longo do rio | ũa batalha ordenada | nam de gentes mas de mus | com muita raia pisada | a carne está em Bretanha | e as couves em Biscaia. | Sam capelão dum fidalgo | que nam tem renda nem nada | quer ter muitos aparatos | e a casa anda esfaimada. | Toma ratinhos por pajens | anda já a cousa danada | quero-lhe pedir licença | pague-me minha soldada.

  • Português
  • Espanhol

Vasconcelos, Carolina Michaëlis de, “Estudos sobre o Romanceiro peninsular. Romances velhos em Portugal”, Cultura española, VIII, 1907, pp. 1045-1048.

Autoria
Gil Vicente
  • Identificada
Desconhecido
1537
  • XVI
Composição ou secção quadro

Esta seguinte farsa foi feita e representada ao muito poderoso e excelente rei dom João, o terceiro em Portugal deste nome, na sua cidade de Coimbra, na era do Senhor de 1526.

[capelam] Pois que nam posso rezar

Dramático
  • Português
  • Espanhol
Sim
  • Paródica
Obra

Copilacam de todalas obras de Gil Vicente, a qual se reparte em cinco livros. O Primeyro he de todas suas cousas de deuaçam. O segundo as comedias. O terceyro as tragicomedias. No quarto as farsas. No quinto as obras meudas. Imprimiose em a muy nobre e sempre leal cidade de Lixboa em casa de Ioam Aluarez impressor del Rey nosso Senhor. Anno de 1562, fol. CCXXVIIIr.

  • Dramático
  • Português
  • Espanhol

Esta obra encontra-se disponível na coleção digital da Biblioteca Nacional de Portugal, http://purl.pt/11494 [05/04/2021].

Romance(s) de origem

Este grupo e os respetivos campos surgem replicados quando o verso de procedência do engaste é partilhado por vários romances.

N/A- Yo m'estando en Coimbra

Yo mestamdo em coymbra | a prazer y a bel folgar | por los campos de mõdego | caualleros ui asomar | desque yo los ui mesqina | luego ui mala senhal 

Yo mestamdo em coymbra | a prazer y a bel folgar

Manuscrito

Cancioneiro de Paris / Chansonnier Masson, École Nationale Supérieure de Beaux-Arts de Paris, ms. Masson 56, fol. 69v (Dumanoir, Virginie (ed), Romancero cortés manuscrito, coord. Josep Lluís Martos, Alicante, Universitat d´Alacant («Cancionero, Romancero e Imprenta», 4), 2021, p. 356).

  • Incipit
  • Zona Intermédia
Não
Não