1. A transcrição moderna da melodia foi feita segundo as normas constantes nos critérios editoriais do catálogo musical RELIT-Rom.
2. A peça está musicada a quatro vozes. A voz mais aguda, equivalente a um primeiro soprano é a primeira, seguindo-se-lhe nesse mesmo fólio a voz de primeiro contralto (assinalada com "1. Cont."), segundo contralto (assinalada com "2º. cont."). No fólio seguinte está a voz de segundo soprano (assinalada com "Tiple").
3. Como é característico dos cancioneiros quinhentistas, a colocação das sílabas no fólio não está necessariamente alinhada com a sucessão de notas musicais na pauta. De acordo com os critérios editoriais deste catálogo, fez-se aqui essa correspondência prosódica tendo em conta o desenho rítmico e melódico apresentado.
4. Estrutura musical em cinco frases, para quatro versos. As primeiras quatro frases musicais correspondem a um verso, e na última frase musical repete-se o último verso, tal como está indicado nas pautas das três vozes inferiores. Para uma análise musical detalhada, veja-se: Florentino, 2009, p.125.
5. A escrita musical tem elementos típicos da polifonia vocal homofónica, mas com algumas particularidades. A melodia está na voz superior, que inicia a peça com certo carácter solista, juntando-se-lhe depois as restantes três vozes, quase como acompanhamento. As vozes são equilibradas, movendo-se maioritariamente com o mesmo ritmo, resultando numa escrita vertical em blocos de acordes que aposta sobretudo na expressividade das harmonias, no entanto há alguma elaboração contrapontística. Cada voz movimenta-se por grau conjunto ou por intervalos musicais pequenos, com poucos saltos, excepto o baixo, que vai fazendo saltos intervalares maiores consoante as necessidades harmónicas; o âmbito de cada voz é reduzido e inferior à oitava, os valores rítmicos são maioritariamente longos e incidem sobretudo na breve e semibreve. O tempo da peça é binário.
6. Dentro do quadro geral de escrita homofónica, é de assinalar o uso de pausas, que em determinadas passagens vão aliviando a textura a quatro vozes, tornando-a menos densa. Este procedimento acontece três vezes: logo no primeiro verso, sobre por mayo; pouco depois, sobre a palavra donsellas e, no fim, em cõ amores. Em cada um destes momentos, há uma palavra que fica cantada apenas pelas duas vozes superiores, para logo depois ser ouvida por todas as quatro vozes, fazendo sobressair a palavra assim tratada. Aplicando os restantes versos à composição musical, teríamos essa momentânea alternância de textura, com reforço do significado, em de dia, paxarilla e alvor; vallestero, mi cara e rededor; escudero, cuitado e prisiones, e por último, cabeça, por cama e cobertor.
Tal procedimento faz com que, por vezes, a peça adquira momentaneamente o carácter de melodia acompanhada (logo no início da peça, quando entra a voz superior sozinha e se lhe juntam a seguir as outras três vozes), ou de dois pares de vozes (quando as duas vozes inferiores têm pausas, por oposição às duas vozes duperiores que continuam a soar).
7. É igualmente interessante o uso explícito de dissonâncias, nomeadamente a segunda menor que resulta entre as vozes de Soprano e Tenor, sobre a palavra calores nas notas fá-mi, respectivamente, imediatamente antes da cadência, o que contribui igualmente para chamar a atenção sobre essa palavra:
8. Esta peça é um caso interessante dos vários tempos de escrita. Num primeiro momento, o incipit foi escrito em cada voz. Outra mão acrescentou à voz superior os versos restantes para completar a estrofe. O mesmo sucedeu com as três vozes inferiores. Por fim, na voz superior, ainda uma outra mão acrescentou mais dois versos.
10. A voz inferior tem um bemol na armação de clave (que afectaria a nota Si, bemolizando-a), que no entanto parece ter sido apagada. Com efeito, não existe na melodia desta voz uma única vez a nota Si, que pudesse ser afectada por este bemol, sugerindo que o copista tenha escrito a armação de clave por automatismo e mais tarde, ao escrever as notas, se tenha dado conta do erro.